Garoto anda quase duas horas de mula e mais dois quilômetros a pé (Foto: Reprodução/TV Integração) |
O relógio desperta de madrugada e às 2h45 começa a rotina do estudante Alex José Ferreira. Com apenas 14 anos o dia dele é mais cansativo do que o de muitos adultos. Isso porque o garoto tem que se desdobrar para conseguir chegar à sala de aula às 7 horas e não deixar os livros e os sonhos de lado. A história virou assunto até no Ministério Público.
Alex José mora na zona rural de Presidente Olegário a 27 quilômetros da cidade, na região Noroeste do estado. Para chegar à escola tem que passar por estradas em péssimas condições de tráfego. “Todos os dias busco a mula no pasto e pego estrada. Tem que ter muita disposição e coragem porque andar sozinho no escuro é muito ruim”, contou. Somente na mula o percurso feito pelo adolescente quase duas horas. Na travessia tem muito buracos, alguns rios e córregos. Depois ele deixa o animal em um beco e segue a pé por mais dois quilômetros em direção ao local em que o ônibus para e, só então segue para a escola.
O pai do rapaz, o produtor rural Valderi Anicieto Ferreira, revelou que o filho sonha em ser um engenheiro agrônomo. “Eu acredito que ele vai chegar lá, se Deus quiser”, afirmou.
E apesar de ter “comprado” o sonho do filho, Valderi Anicieto não esconde a preocupação com o rapaz. “A gente fica com o coração na mão em ver o filho saindo numa situação dessas. Ele acorda muito cedo, sai de madrugada e ainda tem a questão da distância que tem que percorrer para estudar. É perigoso, pois pode ser que apareça uma onça ou até mesmo a mula tropece e ele caia”, confessou.
Alex José ficou quase dois anos sem estudar esperando por melhores condições nas estradas, o que não ocorreu. O pai dele contou que já tentou de tudo, inclusive falar com a Prefeitura, com o Fórum e o Conselho Tutelar. “Mas ninguém deu uma resposta”, disse.
Na escola o garoto tenta aproveitar ao máximo o tempo em sala. Atualmente ele cursa a sexta série do Ensino Fundamental na Escola Municipal Carmen Celina Nogueira. “Eu gosto, quero aprender, formar e ser alguém na vida”, salientou.
O esforço dele é reconhecido pela professora de língua portuguesa. “Alex é um aluno que faz de tudo pra aproveitar o tempo que está na sala. Ele tem interesse”, comentou Ieda Pinheiro.
Na sala em que estuda há 32 alunos na faixa etária de nove e dez anos. Alex é o único com quase 15 anos. “A escola toda empenhou em coloca-lo sendo o primeiro aluno a sentar na frente. Com isso ele aproveita o máximo das explicações, das habilidades desenvolvidas e tenta recuperar o tempo perdido”, ressaltou a professora.
A secretária municipal de Educação Girlene Firmina Diniz e o secretário de Estradas e Transportes de Presidente Olegário José de Souza Pacheco reconheceram o problema enfrentado pelo adolescente. O secretário disse que a intenção é resolver a questão da estrada esse ano. “Essa é uma obra que não é feita de um dia para o outro. É uma questão de disponibilidade da equipe da Prefeitura. Não se pode deixar um município inteiro para jogar equipes somente naquele local. É possível que até o fim do ano o problema seja resolvido, pois isso também é uma vontade do prefeito”, concluiu José de Souza.
Direito
Na Constituição Federal consta que educação é direito de todos e dever do Estado e da família. Ela deve ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade para o pleno desenvolvimento da pessoa, para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho.
Diante da história do adolescente e das dificuldades enfrentadas por ele, o Ministério Público se mobilizou e se reuniu com o Município a fim de tentar um acordo. Segundo a promotora Vanessa Dosualdo Freitas, o combinado prevê que a partir de agora Alex José vai caminhar metade do trajeto e um veículo vai buscá-lo no caminho e levá-lo até o ponto do ônibus.
Ainda segundo a promotora, em maio as obras devem começar na zona rural e o adolescente vai andar 1.200 metros até que o veículo do município encontre com ele. “Dividimos o acordo em duas partes por causa da situação ser de emergência. Estamos tentando amenizar as dificuldades do adolescente”, disse Freitas.
O prefeito Antônio Cláudio Godinho disse que uma moto fará o transporte do menino até o ônibus. “A criança não pode ficar sem escola. Esse é um trecho difícil de cuidar e dar manutenção”, finalizou.
Fonte: G1
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