Traficantes driblam a precária fiscalização nas rodovias e trazem a droga em caminhões, carretas e bi-trens. FOTO: JOSÉ LEOMAR. |
Nem de barco nem de avião, muito menos de trem. A cocaína que entra no
Estado do Ceará, oriunda da Bolívia, e que abastece dezenas de
traficantes e é consumida por milhares de usuários, chega aqui escondida
em caminhões, carretas, bi-trens e até em veículos tanques. Desafiando
as autoridades, a droga percorre um longo caminho pelas estradas
brasileiras, vai até São Paulo e depois chega ao Nordeste, ultrapassando
dezenas de postos de fiscalização da Polícia sem que seja interceptada.
Esta
é uma das conclusões das investigações que a Polícia Federal e os
setores de Inteligência do Estado chegaram após a descoberta de dois
carregamentos de cocaína nas últimas três semanas. Em um deles, a droga
veio escondida em meio a um carregamento de farinha de trigo,
desembarcado em uma fábrica de massas na BR-116, em Itaitinga. Eram,
nada menos, que 107 quilos de cocaína comprovadamente de puro teor.
Logo
em seguida, outro carregamento ainda maior e ainda mais valioso, foi
apreendido logo que um caminhão-tanque ultrapassou a divisa entre o
Ceará e o Estado do Piauí, através da região dos Inhamuns.
É
dessa forma que a cocaína boliviana tem aportado no Estado do Ceará,
seja já pronta para o consumo ou para ser desdobrada, ou ainda na forma
de pasta-base, com o carregamento de 380 quilos interceptado pela PF.
O
primeiro carregamento foi descoberto por policiais militares, do 15º
BPM, na noite de 26 de novembro último, quando uma carreta com placas de
São Paulo entrava em um galpão para alugar situado no Anel Viário, no
Município do Eusébio. Pelo menos, três pessoas – sendo um casal de
paranaenses e um paulista – foram capturadas após um tiroteio em que o
restante do bando conseguiu fugir.
Facção
Nas
investigações da Polícia surgiu a suspeita de que aquela não fora a
primeira vez que o mesmo grupo desembarcava carregamento de ´pó´ em
Fortaleza. Isso ganhou reforço quando se descobriu em meio às bagagens
da paranaense Ducilene Simão, 27, uma passagem aérea constando que ela
esteve aqui em abril passado. E mais, surgiram também indícios veementes
de que o carregamento teria sido mandado para cá pela facção criminosa
paulista Primeiro Comando da Capital, o temido PCC, grupo criminoso
organizado que domina os presídios e penitenciárias de vários Estados, a
partir de São Paulo, onde estão seus principais ´cabeças´.
Estado serve de entrada e saída de drogas
Rotas
e modos de transportar grandes carregamentos de drogas mudam a todo
instante. No Ceará, diversas formas já foram detectadas. Os criminosos
procuram alternar os trajetos para driblar a fiscalização da Polícia.
Através de estradas de terra, veículos de pequeno porte transitam com
pequenas e médias quantidades de cocaína, maconha e crack.
No
entanto, nos últimos dois anos, pelo menos quatro grandes carregamentos
foram interceptados pela Polícia em rodovias federais. As BRs 222, 020 e
116 (Santos Dumont) servem de escoamento de drogas produzidas nos
países tradicionalmente fabricantes de cocaína, como a Bolívia, Colômbia
e o Peru. Já a maconha em grande escala, que antes era produzida no
Interior do Estado de Pernambuco, agora é trazida do Paraguai.
Porta de saída
No
sentido inverso, a Capital cearense é constantemente ´alvo´ de ação de
´mulas´, pessoas que são pagas pelos grandes traficantes internacionais,
para transportam cocaína em direção à Europa e a África.
No
Aeroporto Internacional Pinto Martins o trabalho constante de agentes da
Polícia Federal tem impedido que ´mulas´ obtenham êxito na tarefa paga
de transportar cocaína, seja através de apetrechos de diferentes modelos
nas bagagens, seja no próprio corpo. Muitos já foram detidos com drogas
ingeridas em pequenas cápsulas.
Já os grandes carregamentos são, preferencialmente, trazidos em caminhões e carretas, acompanhados de ´batedores´.
Traficantes agem em ´consórcio do pó´
Traficantes
locais estão se reunindo em grupos e comprando na Bolívia grandes
carregamentos de cocaína. Os custos da logística são rateados. Isso é o
que as autoridades chamam de ´consórcio da droga´.
Na semana
passada, em entrevista coletiva, o superintendente da Polícia Federal no
Ceará, delegado Renato Casarini Muzy, concedeu entrevista coletiva à
Imprensa local para falar das investigações da PF que culminaram na
descoberta e apreensão de um carregamento de 382 quilos de pasta-base do
cocaína, que eram transportados em um caminhão-tanque. O veículo foi
interceptado, há 10 dias, pelos agentes da Delegacia de Repressão aos
Entorpecentes quando entrava no Ceará, através da BR-020, no limite com o
Piauí.
A abordagem aconteceu logo que o veículo foi localizado
no posto de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no
Município de Parambu (a 408Km de Fortaleza).
Na coletiva, Muzy
revelou que as investigações apontaram os indícios de existência de um
´consórcio´ da cocaína, isto é, traficantes estariam se agrupando e
mandando comprar, de uma só vez, grandes carregamentos de cocaína na
Bolívia, para trazê-la para o Ceará, onde cada um receberia sua parte.
Os custos de transporte e demais logística seriam rateados.
Confirma
O
titular da Delegacia de Narcóticos (Denarc), da Polícia Civil do Ceará,
delegado Pedro Viana Júnior, foi ouvido pela Reportagem e confirmou
informações de que traficantes locais realmente estariam se unindo no
tal ´consócio´ para trazer os carregamentos. Sem dar muitos detalhes das
investigações a respeito, para preservar o trabalho, ele explica que
está uma das formas que os criminosos vêm se utilizando para abastecer
seus pontos de vendas de drogas.
Por conta disso, a vigilância aos traficantes – mesmo aqueles que estão nos presídios – vem sendo redobrada.
Fonte: Diário do Nordeste
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