O ano era 1986, surgiu no coração do poeta uma flor, um amor e uma canção. José Tomás de Lima, moreno franzino de traços simples e fortes, homem pobre e feliz sempre acompanhado da velha viola, companheira de longos dezembros e confidente de emoções.
Em Mucambo fez multiplicar sorrisos, encontrou a mais pura inspiração, fez amigos verdadeiros, fez poesia, fez canção, o poeta de belos acordes confidenciou a sua vida segredos do coração.
Em uma tarde rotineira, quebrou o marasmo o poeta, movido pelo desejo de dedicar a sua canção para a sua flor. Deixou Mucambo rumo a Sobral e na expectativa os amigos Mucambnses com os rádios sintonizados na Tupinambá AM de onde deveriam ouvir uma canção dedicada. Tomás com sua viola dedicaria do estúdio da rádio uma canção de amor a uma linda flor que certamente estaria na escuta.
Com o passar das horas aqueles do outro lado rádio já desanimados pela demora foram então surpreendidos pelas palavras do radialista que deveria anunciar o cantador.
Do rádio se ouviu em Mucambo o anuncio:
“ E atenção amigos ouvintes da rádio Tupinambá, o poeta cantador de Mucambo lamentavelmente acaba de falecer nos estúdios da rádio” .
E fez-se o silêncio o coração do poeta parou. A voz firme do cantador calou-se e a viola parecia lamentar o silêncio e a perda. Calou-se a voz do poeta de Mucambo e com ele o seu segredo, jamais se soube o coração destinatário da canção, jamais ninguém soube o verdadeiro nome da Flor do Mucambo.
CONHEÇA A POESIA DE ZÉ TOMÁS DE LIMA DEDICADA A SEU AMOR, SUA FLOR DO MUCAMBO:
Flor do Mucambo
Dedico a você que está me ouvindo,
E talvez sentindo saudade também,
Óh flor do Mucambo vestida de luto,
Herança de um fruto dos beijos de alguém.
Foi de madrugada, quando eu te beijei.
Parti e chorei vendo a imagem sua.
Poeta boêmio sem felicidade,
Cantando saudade aos raios da lua.
Você flor divina, tão simples, tão bela.
Óh flor amarela do meu pé de jambo.
Sou triste poeta cativo, mas amo e
Por isso lhe chamo de Flor de Mucambo.
Não tenho riqueza pra lhe ofertar,
Navio e nem mar em Copacabana.
Só tenho a viola, a vida e o mulambo,
Óh flor do Mucambo da minha choupana.
Lhe dou as estrelas, a lua, cascatas,
O campo e a mata, o riso e o pranto,
Estrela cadente, luz de vagalume.
Venha dar perfume aos versos que eu canto.
Ateio os guerreiros da vil raça humana
E o homem que engana ao seu fiador.
Eu morro brigando no céu e na terra
E até faço guerra pra ter seu amor.
Me dou um peixinho que morre na areia,
A voz da sereia que canta escondida.
Eu só quero apenas que os dias seus
Se unam aos meus nos dramas da vida.
Bem veio a inocência que tem no seu riso.
Eu fico indeciso sem saber o que faça.
Você é poema de felicidade cantando
Saudade na alma da raça.
Quando a mocidade voar, for embora,
O romper da aurora sem saber por quê.
Aí chorarei já quase no fim,
Com pena de mim, pensando em você.
Termino o poema olhando pra lua,
Linda deusa lua, que sente ciúme.
Óh flor do Mucambo dos meus desenganos,
Com passar dos anos não perca o perfume.
José Tomás de Lima
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