ONG que já foi presidida pelo atual prefeito de Canindé, Celso Crisóstomo (PT), firmou convênios de cerca de R$ 5,8 milhões com o Governo do Estado entre 2010 e 2011. Em torno da ação, contratos envolvendo familiares do petista, empresas de estrutura precária ou quase inexistente e licitações mergulhadas em fatos controversos. A parceria teve como objetivo a construção de 3.524 cisternas em comunidades carentes atingidas pela seca no Ceará.
Em 15 de março de 2010, a Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Estado (SDA) firmou convênio de R$ 3,1 milhões com a ONG Instituto Vida Melhor, para a construção de 1,9 mil cisternas em comunidades carentes. O documento foi assinado pelo hoje secretário da Educação de Canindé, Antônio Bezerra.
Pouco tempo depois, Celso Crisóstomo também assinou documentos como presidente da entidade – ao mesmo tempo em que presidia outra ONG com convênios estatais – o Instituto Agropolos.
Para construir as cisternas, o Vida Melhor contratou – via licitações – outras empresas. Entre elas, a Cooperativa de Trabalho, Emprego e Criação (Procriar), que recebeu R$ 2,2 milhões para fornecer material para as obras. Também foi contratada, por R$ 108 mil, a empresa Liderança, para capacitação de pedreiros.
Segundo o Sistema de Convênios do Governo Federal (Siconv), a Procriar chegou a funcionar no mesmo endereço do Vida Melhor – um box de lanchonete improvisado num parque municipal – e a ser presidida pela esposa de Crisóstomo e atual chefe do Comitê das Águas de Canindé, Esperanza Crisóstomo.
E, de acordo com dados da Receita Federal, a cooperativa Procriar não possuía Certidão Negativa de Débito (CND) válida no momento em que participou das licitações para o projeto. Mesmo sem o documento básico, obrigatório para a inscrição em licitações públicas, ela venceu o certame. Em 2010, o Vida Melhor ainda firmou outro convênio, dessa vez em R$ 2,6 milhões, para a construção de novas cisternas.
Fiscalização
O secretário do Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA), Nelson Martins (PT), rejeita qualquer irregularidade em programas de cisternas do Estado. Segundo ele, obras de convênios firmados com ONGs são acompanhadas “rigorosamente” pela pasta.
“À nossa secretaria cabe confirmar se (as cisternas) foram construídas, bem como analisar contas dos pregões eletrônicos. A ONG tem que apresentar fotografia e georrefereciamento da obra (…) agora, a relação da ONG com o Celso não tem nada a ver com a SDA”, diz.
A reportagem tentou entrar em contato com Celso Crisóstomo, mas não obteve resposta. Nelson Martins afirma, no entanto, que conversou com o gestor, que teria afirmado que a ONG “tem toda a documentação do processo licitatório”. Ele ainda teria dito que sua esposa não fazia parte da Procriar durante o convênio da cooperativa com o Vida Melhor.
Para o deputado João Jaime (PSDB), quem primeiro denunciou possíveis irregularidades, os convênios são parte de esquema de cooptação de bases eleitorais para o PT na região. Ele afirma que a Procriar ainda venceu licitações com outras ONGs “fantasmas” em Quixeramobim.
“Não é só má fé. É a volta da ‘indústria da seca’. Se antes era desorganizado, agora a máquina é sofisticada. A indústria está organizada como nunca, com direito a licitação e publicação no Diário Oficial”, diz.
Fonte: O Povo
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