Mapa da Violência aponta que em cada 100 mil jovens, 27,7 morreram tendo o tráfego como causa
Um
verdadeiro milagre diferenciou os destinos de dois jovens cearenses no
último dia 20. Glauberto Rogério de Oliveira, 21, e Antônio Domingos dos
Santos, 23, foram vítimas de acidentes de moto quase no mesmo instante.
O primeiro saiu com vida e está internado no Instituto José Frota
(IJF). O segundo, não teve a mesma sorte, e faleceu no local do choque
entre o veículo que pilotava e um carro que seguia na contramão.
Glauberto registrou no Facebook agradecimentos a Deus, enquanto os dados
de Antônio entraram para os índices de acidentes fatais de transporte
envolvendo a população juvenil entre 15 e 24 anos no Brasil. De acordo
com dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/CE), a cada dia,
um jovem perde a vida no trânsito do Estado. Em 2012, foram 471
acidentes fatais. Em 2011, 436 mortes, em igual período. Um aumento de
8%. Nos dois primeiros meses de 2013 – janeiro e fevereiro – foram 67
falecimentos de pessoas nessa faixa de idade.
Mortalidade
O
Mapa da Violência, do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos
(Cebela), constata que em 21 anos a mortalidade juvenil em todo o País,
tendo o transporte como principal vilão, cresceu 121,1%. Em dez anos,
entre 2000 e 2011, o aumento foi de 47,5%.
A taxa de óbitos neste
recorte da população é alarmante, diz o estudo. A cada 100 mil jovens,
27,7 morreram tendo o transporte como causa. “Há 21 anos, o trânsito
liderava a mortalidade juvenil nos motivos externos. Hoje, os homicídios
ocupam a primeira posição, mas não temos nada o que comemorar, pelo
contrário”, avalia o autor do estudo, Júlio Waisefisz.
Do total
de acidentes fatais, aponta o médico Line Jucá, a moto aparece em
primeiro lugar. De acordo com ele, a facilidade em tirar Carteira
Nacional de Habilitação (CNH) e a falta de fiscalização acabam
influenciando diretamente o aumento no número de mortes. O Instituto
José Frota (IJF), informa ele, não possui estatística por faixa etária,
no entanto, pela sua experiência no atendimento na traumatologia da
instituição, acredita que pessoas entre 18 e 40 anos de idade são as
principais vítimas.
Média
Os dados do
hospital são assustadores: por dia, em 2013, a média de atendimentos a
vítimas de acidentes de moto, no IJF, é de 29 pessoas. Por mês, a média,
neste ano, é de 886 pessoas acidentadas com motos. “É preciso fazer
alguma coisa. Não podemos apenas ficar contabilizando números”, frisa
Jucá.
Já o comandante da Polícia Rodoviária Estadual (PRE),
coronel Túlio Studart, aponta motociclistas sem capacete e condutores
sem habilitação. Esta combinação de infrações, dentre outras, mostra-se
fatal em mais de 90% dos acidentes ocorridos nas estradas do Estado do
Ceará.
Para ele, mais de 90% dos casos de acidentes no Brasil
decorrem de falha humana, imprudência, negligência e imperícia. “E no
Ceará, os números comprovam que a negligência dos motoristas é a
principal responsável pelas vidas que são perdidas em acidentes nas
rodovias estaduais”, avalia.
Vítimas
De
acordo com a base de dados da PRE, de janeiro a abril de 2013, 95,24%
das vítimas que morreram em acidentes com motocicletas não usavam
capacete. Ao todo, foram 63 mortes, das quais 60 vítimas não utilizavam o
equipamento. Um total de 381 pessoas ficou ferida em acidentes
envolvendo estes veículos, aponta o levantamento.
Já 9,99% dos
acidentes registrados pela PRE envolveram condutores não habilitados
guiando motos, carros e outros veículos. Em 1.191 ocorrências, 693
pessoas ficaram feridas. “O que demonstra o tamanho do absurdo”,
ressalta.
O sociólogo Eduardo Biavati, que é especialista em
trânsito e consultor do Detran no Estado do Rio Grande do Sul, avalia a
relação direta entre as tragédias no trânsito e a Previdência Social.
Para ele, a pergunta é: “o que cada um de nós tem a ver com o
´fulaninho´ que tomba no trânsito? E eu digo: tudo”, ressalta. Porque a
tragédia do trânsito, analisa o especialista, tem uma idade para
acontecer, e ela acontece justo na entrada da adolescência e início da
vida adulta. “Só que esse adulto jovem vai fazer falta lá na frente.
Porque nascem cada vez menos crianças”, acrescenta.
LÊDA GONÇALVESREPÓRTER
Diário do Nordeste
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