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ESCASSEZ HÍDRICA: Já começa a faltar água até em cidades da região serrana

A barragem Tijuquinha, em Baturité, de onde era captada a água para abastecer a população local, a exemplo de outros reservatórios espalhados pelo Estado, já atingiu o chamado volume morto
FOTOS: ALEX PIMENTEL

Riachos, cascatas e temperatura amena. Esses três predicados naturais estão se tornando cada vez mais escassos nas regiões serranas do Ceará. Além do Sertão, a falta de água já é acentuada no Maciço de Baturité. As chapadas da Ibiapaba, do Apodi e do Araripe também estão sofrendo. Além do desconforto para quem mora nessas regiões, precisando cavar poços ou sair à procura de água, a economia também está sendo afetada.

Clima serrano, somente nas madrugadas, com a queda da temperatura; mesmo assim, ainda bem longe dos 17°C com que se acostumaram os moradores e apreciavam os visitantes.

No Maciço de Baturité, todos os municípios da macrorregião estão sofrendo com a estiagem prolongada. A situação mais grave é notada em Pacoti. O Município enfrenta racionamento de água há mais de 15 dias. A população reclama da falta de informação e de medidas para solucionar o problema.

O abastecimento nas torneiras é inconstante. A esse respeito, o secretário municipal de Infraestrutura, Francisco Moésio, informou que a responsabilidade é da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). “Nossas comunidades rurais estão sendo abastecidas por poços profundos mantidos pela Prefeitura”, acrescentou.

Além dos moradores, os comerciantes da região também amargam os efeitos da estiagem prolongada. Antônio Marcos da Silva é proprietário do Balneário Brejo, um espaço recreativo popular situado a cerca de 15Km do Centro de Baturité. Ele recebia de 800 a mil visitantes a cada fim de semana, mas, quando a seca começou, há cerca de três anos, o movimento passou a cair, vertiginosamente. Hoje, ele amarga prejuízos, mas tem esperança de a chuva retornar e da água voltar a correr no riacho do brejo, atraindo novamente a clientela.

Nos outros balneários a situação é a mesma. Apenas o Remanso Hotel de Serra, em Guaramiranga, mantém estrutura receptiva para os clientes. As piscinas estão cheias. Eles possuem poço profundo.

Quem também está preocupado com a seca prolongada no Maciço de Baturité é o secretário de Cultura e Turismo de Mulungu, Pedro Paulo Moreira. Segundo ele, a cidade tem no turismo de aventura, nas trilhas e banhos de cascatas uma das suas principais fontes econômicas. Hoje, as cachoeiras Redonda, do Macaco e do Perigo, mais procuradas no Município, estão secas. Perderam a visita de turistas e até da população local. Não bastasse isso, há preocupação quanto ao Carnaval. Mulungu divide com Pacoti a melhor festa popular da região, mas, se as chuvas não começarem a cair, a festividade estará comprometida.

O Governo Federal não disponibilizará verba para as cidades onde houve decretação de estado de emergência. A preocupação de todos os gestores municipais da região é a mesma. Na maior cidade da região, Baturité, a população já recebe água do reservatório de Aracoiaba desde outubro, por meio de uma adutora. A barragem Tijuquinha, de onde a água era captada para os moradores, já atingiu seu volume morto. Conforme um dos representantes da Câmara Municipal, Ozanam Moreira, mesmo assim a população continua sofrendo. São comuns as panes nos motores de bombeamento da adutora e, às vezes, a água deixa de chegar às torneiras das casas por até 15 dias. “Alívio na região, apenas nos condomínios fechados. Além de ótima estrutura, possuem poços profundos”, ressalta Ozanam.

Zona Norte

Na Serra do Jordão, em Sobral, o abastecimento tem sido feito por carros pipas e foi denunciado pelo vereador Adaldécio Linhares que a água fornecida é de péssima qualidade. O vereador ainda chegou a dizer que os carros que fazem os transportes são velhos e enferrujados. Outro ponto citado pelo representante dos moradores da Serra do Jordão está relacionado à quantidade de água. Dos 7 mil litros que são retirados no reservatório, devido o vazamento ocasionado nos tanques dos carros-pipa, somente chegam à comunidade aproximadamente 4 mil litros e com muita ferrugem.

A Câmara de Vereadores de Sobral não aceitou o pedido do vereador Gilmar Bastos, que solicitava ao Ministério Público Estadual que apure as denúncias do parlamentar sobre a qualidade e quantidade da água que é fornecida para a população da Serra do Jordão.

Para o vereador Hermenegildo Souza Neto, “é melhor deixar do jeito que está do que parar de vez o fornecimento para aquela comunidade, caso o Ministério Público encontre alguma irregularidade que impossibilite a continuidade do serviço de abastecimento por carros-pipas”.

Em São Benedito, na Serra da Ibiapaba, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Osmar Gomes, conta que a situação para os produtores está difícil, principalmente para os que moram nas zonas mais distantes da cidade. “Muitos poços profundos de 80 metros estão completamente secos, além disso, a tensão da energia não é bastante para aguentar os motores para puxar água dos que ainda não secaram. A Zona do Carrascos é hoje uma das nossas piores realidades: temos lagoas secas ou secando. Já a maior atração turística da região, a Bica do Ipu está seca há mais de dois meses.

Alex Pimentel/Sucursais
Colaborador Diário do Nordeste

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