Exportações em alta pressionam preços da carne e mudam cardápio dos brasileiros

Com a disparada nas exportações e o poder de compra corroído pela inflação, a carne bovina tem perdido espaço no prato do brasileiro. O preço elevado, que acumula alta de 21% nos últimos 12 meses, tem forçado muitas famílias a substituírem a carne por frango ou peixe.
“A gente chega aqui, olha para a carne e não dá para levar. O bife é uma vez por mês”, desabafa Diana Cristina Cesário, líder de limpeza.
“Eu saí de um mercado e vim para o outro para ver se mudava alguma coisa no preço”, conta Layla Lobato, dona de casa.
“Não dá para comprar mesmo por causa do preço que está estourando”, afirma a cuidadora Paulina Conceição.
Exportações recordes pressionam oferta interna
Segundo dados do FGV Agro, o Brasil bateu recorde nas exportações de carne bovina no primeiro trimestre de 2025, com US$ 2,9 bilhões comercializados no mercado internacional.
“A demanda mundial por carne bovina está alta e o Brasil tem sido o principal fornecedor”, explica Felippe Serigati, pesquisador do FGV Agro. “Mesmo assim, cerca de 70% a 80% da carne brasileira ainda é consumida aqui dentro. O que se exporta é o excedente.”
Apesar disso, o pesquisador alerta que o problema principal está no bolso dos consumidores brasileiros:
“Com a inflação mais acelerada, houve corrosão no poder de compra das famílias. A carne passa a pesar mais no orçamento doméstico”, analisa Serigati.
Oferta limitada e produção demorada
O ciclo da pecuária é mais lento do que de outras culturas agrícolas. A produção leva anos para se ajustar à demanda, o que dificulta uma resposta rápida de oferta para reduzir os preços.
No Mato Grosso do Sul, o pecuarista Eduardo Ferreira investe em tecnologia para aumentar a produtividade sem desmatar novas áreas:
“Buscamos aumentar a produção por hectare com integração lavoura-pecuária. Assim, esperamos ampliar a oferta e fazer os preços caírem no médio e longo prazo.”
Adaptações no cardápio
Enquanto o preço da carne bovina segue elevado, muitos consumidores têm recorrido a alternativas mais em conta. O aposentado Bonfim Pereira França é um exemplo:
“Agora eu vou de coxa e sobrecoxa. O que estiver mais barato.”
O que dizem as indústrias
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) afirmou que o Brasil exporta principalmente cortes de baixa demanda interna, e que o abastecimento doméstico não está sendo prejudicado pelas vendas externas.
A entidade destacou ainda que custos com insumos, energia e transporte têm impacto mais direto nos preços da carne nos supermercados do que o volume exportado.
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